Entrevista com pesquisador do PPGEO/UEMA sobre o surgimento de erosões em Buriticupu/MA


Por em 28 de março de 2023



Desmatamento causou crateras que ameaçam ‘engolir’ casas em cidade no Maranhão

Crateras chamadas de ‘voçorocas’ surgem devido ao desmatamento de áreas nativas, como é o caso em Buriticupu, cidade que corre o risco de ter casas engolidas pelo fenômeno natural. Em 2019, 10 buracos de grandes proporções foram notificadas na cidade.

Enormes abismos que se alargaram devido as fortes chuvas registradas nas últimas semanas em Buriticupu, cidade a 415 km de São Luís, chamaram a atenção devido a profundidade e ao risco provocado para alguns moradores que vivem em áreas próximas dessas crateras. Algumas chegam a ter até 70 metros de altura e 500 metros de comprimento.

Recentemente, cerca de 27 famílias precisaram ser retiradas da área, segundo o Corpo de Bombeiros. Entretanto, apesar do susto, as crateras que são chamadas ‘voçorocas’, não são um fenômeno recente na região e os primeiros registros desse tipo de erosão aconteceram ainda por volta dos anos 80.

As primeiras voçorocas se formaram a partir da rápida expansão urbana de Buriticupu, como consequência do desmatamento da vegetação nativa em áreas de alta declividade, é o que explica ao g1, o professor Fernando Bezerra, do programa de pós-graduação em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

Voçorocas provocam 'cortes' no terreno em Buriticupu — Foto: Reprodução/Marinho Drones

Voçorocas provocam ‘cortes’ no terreno em Buriticupu — Foto: Reprodução/Marinho Drones

Essas crateras surgem a partir de processos de erosão acelerados pela ação da chuva, devido às enxurradas, em áreas com solos sem cobertura vegetal, como aconteceu, recentemente, em Buriticupu.

“A malha urbana da cidade, e seus sistemas de arruamentos, aliadas aos fortes eventos pluviométricos, contribui também com o grande volume de água (enxurradas) que chegam no interior dessas voçorocas, aumentando o risco de avanço nas residências locais”, explicou o professor que pesquisa o fenômeno na região.

Em 2019, foram cadastradas pelo departamento de Geografia da UEMA, 10 voçorocas de grandes proporções em Buriticupu, que representam riscos à população local, devido sua profundidade e proximidade de algumas moradias.

O professor afirma que, durante o monitoramento das crateras, várias residências foram comprometidas, entretanto, os moradores não souberam quantificar residências foram atingidas. Segundo a Prefeitura de Buriticupu, esse fenômeno atinge o município há décadas e já ‘engoliu’ 50 casas nos últimos anos, por causa do desmatamento.

Prevenção

Crateras ameaçam centenas de moradores em Buriticupu, no Maranhão — Foto: Reprodução/Marinho Drones

Crateras ameaçam centenas de moradores em Buriticupu, no Maranhão — Foto: Reprodução/Marinho Drones

O surgimento de novas crateras podem ser prevenidas para evitar tragédias de maiores proporções. Ao g1, o professor Fernando Bezerra explica que, para isso, é necessário investir na proteção do solo com a cobertura da manutenção vegetal da área próxima a essas crateras, principalmente em locais com alta declividade e próximo as nascentes de rios.

Além disso, deve-se evitar queimadas e desmatamento em áreas próximas, devido a instabilidade do solo. E para uma maior eficácia, as autoridades também precisam investir em infraestrutura com esgotamento sanitário, drenagem urbana e retirar da região a população em torno das cabeceiras das crateras.

“A população que vive em torno das cabeceiras das voçorocas precisam ser retiradas, para evitar novas tragédias. Além disso, também deve-se desviar os fluxos de águas que chegam às cabeceiras das voçorocas, investir no plantio de espécies arbóreas nas bordas e interior e no retaludamento das paredes das voçorocas com aplicação de técnicas de bioengenharia de solos”, finalizou o professor.



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